Fruto do cerrado pode tratar vitiligo
- Denise Soares
- 16 de set. de 2017
- 3 min de leitura
A Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Programa de pós-graduação em Ciências Farmacêuticas desenvolve, desde 2011, uma pesquisa que avalia o potencial terapêutico de plantas do cerrado no tratamento do vitiligo.

O estudo realizou testes in vitro e está em fase de desenvolvimento de formulações para, em um futuro próximo, testar os medicamentos tópicos e orais em sujeitos que possuem a doença. Partindo do pressuposto do uso caseiro e cultural da planta mama-cadela na repigmentação da pele, institui-se o processo de verificação científica.
A equipe que conduz o estudo é coordenada pelo professor Dr. Edemilson Cardoso da Conceição e composta pela doutoranda em Ciências Farmacêuticas Mariana Cristina de Morais, o professor e agrônomo João Carlos Mohn Nogueira, e também pela Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa (Emater).
Segundo Mariana, o que substancia a pesquisa e o tratamento do vitiligo são as furocumarinas. Esses elementos são encontrados na mama-cadela e quando entra em contato com a luz solar estimula a repigmentação da derme. “A indicação do tratamento seria utilizar o medicamento e ficar alguns minutos em contato com a luz solar ou alguma radiação artificial”, revela. Porém, para que o medicamento seja eficaz é preciso chegar a uma dosagem correta.
Por isso, a pesquisa está em fase de ajustes na formulação com base nos extratos retirados da entrecasca da raiz da mama-cadela. O estudo é cauteloso na medida em que se tem conhecimento dos efeitos negativos da dosagem incorreta da substância. “Estamos trabalhando no desenvolvimento dessas formulações sólidas e semissólidas. Queremos que a formulação tenha alta solubilidade e rápida dissolução”, comenta Mariana.
A doutoranda, que também possui vitiligo, comenta que anos atrás fez uso da planta do cerrado para fins terapêuticos. “Na época, fiz como a maioria da população, de maneira empírica e, inclusive, errônea porque usei como chá, mas ainda assim observei uma melhora”. Os pesquisadores já realizaram testes in vitro, e agora se preparam para os testes in vivo. Para o feito, contarão com a parceria do Hospital das Clínicas (HC) da UFG na triagem dos pacientes.
Prevenção e manejo sustentável
Uma das dificuldades encontradas pela pesquisa que avalia o potencial terapêutico de plantas do cerrado no tratamento do vitiligo é a matéria prima. “Trabalhamos em parceria com o Emater e a Faculdade de Agronomia da UFG para desenvolver o manejo sustentável da mama-cadela”.
Segundo a doutoranda, existe uma escassez dessa planta no Cerrado. De modo a substituir a mamacadela, tem-se buscado plantas semelhantes que também tenham a furocumarina como, por exemplo, o carapiá. “No momento estamos estudando o carapiá que tem furocumarina e é mais fácil de propagação e cultivo”, acrescenta. O desenvolvimento do tratamento terapêutico auxiliará portadores do vitiligo em todo País.
Levantamento inédito sobre a prevalência do vitiligo no Brasil apontou a região Centro-Oeste como o território com maior índice da doença, com 0,69%. A pesquisa foi realizada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) no primeiro semestre deste ano. De acordo com a entidade, o vitiligo afeta cerca de 0,5% da população mundial.
Como medida de conscientização, se celebra no dia 25 de junho o Dia Mundial do Vitiligo. A doença se caracteriza pela perda da pigmentação devido à diminuição ou ausência das células responsáveis pela formação da melanina, substância que tonaliza a pele. As manchas brancas acometem principalmente lábios, olhos, mãos, pés, genitálias e umbigo. Os fatores que ocasionam o desenvolvimento da doença ainda são desconhecidos, tal como sua cura. Embora não seja contagioso, o vitiligo é estigmatizante e traz prejuízos emocionais.
* Texto originalmente reproduzido na revista Medicina em Goiás
* Imagem: Flickr
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