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Vinhos goianos surpreendem o paladar

  • Foto do escritor: Denise Soares
    Denise Soares
  • 26 de set. de 2017
  • 4 min de leitura

Imaginar a terra do pequi produzindo uvas e vinhos de qualidade seria uma utopia anos atrás. Hoje, graças aos avanços tecnológicos e o espírito aventureiro e empreendedor de um médico, o mito de que Goiás não produz vinhos finos foi refutado.


O otorrinolaringologista Marcelo Souza, natural de Piracanjuba, se descobriu um enófilo – apreciador de vinhos – quando buscava aprimoramento profissional, em São Paulo. Com o passar o tempo, a relação do médico com essa bebida de sabor apurado foi se estreitando. Dessa maneira, em 2004, ele abriu a própria vinícola, Pireneus Vinhos e Vinhedos.


História


Quando esteve na capital da garoa se profissionalizando, em 1990, Marcelo começou a degustar vinhos e a participar de reuniões de enófilos. Ao voltar para Goiás, o médico afastou-se do seu tão querido hobby. No entanto, o que parecia ser o fim tornou-se o começo de uma história. “Tenho personalidade de uma pessoa curiosa. Todo assunto que ouço desperta em mim uma vontade de me envolver completamente. Por isso eu pesquiso. Ao voltar para Goiás , comecei avaliar a viabilidade da produção de vinhos no cerrado”, conta.


Não demorou para que ele cogitasse criar, na cidade de Cocalzinho, sua própria vinícola, a Pireneus Vinhos e Vinhedos. Habituado ao clima goiano, o aventureiro sabia o que esperar. “Quando eu era criança, me lembro bem de sair de casa todo agasalhado pela manhã porque o frio era intenso. Mas logo às 9 horas, o calor era insuportável. Me acostumei com esse clima onde é quente durante o dia e frio à noite”, comenta. Essa constatação norteou as indagações que Marcelo ainda nutria sobre o cultivo de uvas no cerrado.


Projetando Sonhos


Mesmo sabendo das dificuldades que enfrentaria, o médico muniu-se de coragem e resolveu dar vasão a seu desígnio. Apesar da escassez de equipamentos e mão obra, Marcelo trazia uma bagagem repleta de sonhos. “Existe o consenso de que regiões de clima tropical não são utilizadas para produzir vinho. Todavia, acabei descobrindo que, apesar de ser uma planta de clima temperado, as videiras se adaptam a lugares que tenham particularidades próximas ao clima goiano, com poucas chuvas, dias quentes e noites frias”, relata o vinicultor.

Para cultivar as videiras, o solo, de acordo com o especialista, é o menos importante. “Não temos o poder de mudar o clima, mas é possível fazer correções na terra. Nos últimos 30 anos o Cerrado mudou demais. Antes não se produzia tanto, hoje Goiás é um grande celeiro. O bioma mostrou que se for feita a correções necessárias é possível produzir praticamente tudo”, ressalta.


Hora da colheita


A escolha das mudas que serão plantadas influencia diretamente no sabor do vinho. Marcelo, como um competente enófilo, escolheu plantas europeias com bom desempenho na amplitude térmica encontrada em Goiás. As mudas de uvas Syrah, Tempranillo e Barbera foram plantadas em 2005. A primeira safra produzida e comercializada pela Pireneus Vinhos e Vinhedos foi a de 2010.


No mercado, a vinícola dispõe de dois vinhos. Um a base da uva Syrah, chamado de Intéprido, e outro feito com uva Barbera, denominado Bandeira. Ambos levam pequenas proporções de uva Tempranillo. “A nossa produção é pequena, mas temos alcançado bons resultados. O vinho quando chega ao mercado logo se esgota e as pessoas ficam ansiosas para comprar mais”, revela orgulhoso. “Não optei pelo cultivo de uvas rústicas porque elas produzem vinhos ruins, a ponto de só ser possível consumi-los acrescentando açúcar. O projeto começou de forma pequena pois eu não dispunha de tempo para me dedicar somente a ele. Contudo, o vinhedo foi conquistando o público. Com isso, a vontade de investir no setor ganhou força”, relata médico.


Médico e empresário


O cotidiano cheio de afazeres de um otorrinolaringologista tem cedido lugar ao vinicultor. Entretanto, os desafios burocráticos preocupam Marcelo. “No nosso país o empresário é imensamente maltratado. Durante algum tempo eu não tinha nenhuma convicção de que teríamos sucesso empresarial. Porque quem investe na economia não tem apoio, mas recebe grandes cobranças. Um projeto no qual você se dedica por 10 anos para começar a ter retorno financeiro deixa a situação complexa”, lamenta.


A produção da Pireneus Vinhos e Vinhedos é pequena. Marcelo afirma que já iniciou o processo de expansão dos produtos. “Aumentamos a área plantada, fizermos parceria com fornecedores de uva de modo a deixar a produção mais sustentável. O que investimos hoje terá reflexo, provavelmente, em 2018”, planeja. A meta é conseguir alcançar um padrão de qualidade expressivo. “Em um futuro bem próximo estaremos nos afirmando como região produtora de alta qualidade”, completa o vinicultor.

Quando o projeto se tornar autossustentável, Marcelo admite que deseja deixar a carreira médica e se dedicar à vinícola. A produção de vinho em áreas de chapadas é um projeto em vigência em todo o Brasil. “Queremos mostrar o potencial dos vinhos tropicais. Como eu trabalho no cerrado, há quem trabalhe com esse tipo de produção no sul de Minas, na Chapada Diamantina e ainda, no vale do São Francisco”, diz Marcelo.




* Reproduzido originalmente na revista Medicina em Goiás

Imagem: Reprodução

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© Denise Soares 2017 

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